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Xi’an para Guilin, 1550 km. China Southern nos levou até lá.

Existe uma grande mudança da China entre estas duas cidades mas na verdade permanece a mesma coisa, continua surpreendente e encantador como sabe ser este vasto país.

Se Xi’an representa a China do estereótipo, Guilin continua com tudo que a China tem, mas é radicalmente o contrário.

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Se ninguém falasse, se a realidade não imperasse, diria que o avião escapou da rota e foi parar no Vietnan, no clichê que este país é construído em nossas mentes.

Entretanto não é Ha Noi, é ainda a China.

Quando se chega o aeroporto de Guilin, a coisa fica diferente, hã um sentimento de que a regiâo ainda não sofreu o boom econômico do resto da China. Mas quem liga para isso? Afinal é Guilin!E continua sendo a China!

A mata parece querer avançar para dentro da pista, ao passo que na China de antes era sempre ordeiro e dominado. O calor tropical exige andar de sandálias e bermuda o tempo todo.

Estes foram os trajes que Jerry, o mais hiperativo de nossos guias, nos aconselhou de imediato assim que nos viu. Foi Ding Yi que o contatou para nós, e ele, não sei como, sem placa com nosso nome, simplesmente foi se apresentando certo de que éramos quem ele deveria procurar.

No estacionamento do aeroporto esqueceu onde estava seu carro. Pediu então para que ficássemos debaixo da sombra de uma pequena árvore enquanto ele tentava achar seu veículo, uma versão prata do sedan de Michael, em Beijing.

Também nem quis saber de nossos pertences, foi andando agitado na frente, enquanto corríamos atrás do lépido guia, no tempo sufocante do sul da China, lugar onde fica Guilin.

No que seria um translado aeroporto – hotel – aeroporto, virou uma “longa e impossível de se realizar por conta própria excursão” para as vizinhanças da cidade, se não fosse sua preciosa ajuda.

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Não parava de falar o Jerry, e quando em vez de inglês, me confundi e respondi em francês, ele quase foi ao delírio.

Depois disse que via raramente brasileiros e podia fazer um preço bom para brasileiros na excursão do próximo dia. Desconfiei, achei que era apenas o Jerry querendo vender seu peixe. Me enganei, quando fui comparar com os europeus e americanos do outro dia, vi que ele realmente caprichara com os turistas do terceiro mundo.

Ele explicou que não recebíamos em dólar ou euro, então tinha que ajudar de alguma forma, e o fez.

Negócio fechado. Disse que a partir do dia seguinte seria com seu colega, que ele apenas participara do contato, e me pediu se eu teria moedas ou notas de Reais, pois era colecionador. Enchi-lhe a mão com todas as moedas do Brasil que eu carregava e com algumas notas.

Jerry se foi conforme chegou, em um zaz!

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Na verdade, o translado aeroporto hotel aeroporto, mais uma excursão no rio Lijiang com visita a Yangshou, mais os terraços dos arrozais na manhã do último dia de Guilin sairam por 60 dólares por cabeça. Achei em conta. Depois que fiz tudo, achei de graça.

Nessa cidade, nosso hotel era fantástico. Pegamos um preço em promoção no site de hotéis ainda no Brasil e fomos parar no Lijiang Waterfalls. Portaria simpática e atenciosa, quartos bons, vista para o rio e as pagodas do sol e da lua, conforme tínhamos feito na reserva. Demais mesmo!

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Porem Guiling (flor de Osmanthus) requer uns cinco dias para se ver, não os dois que ficamos. Tem muita coisa para se conhecer e deixamos de visitar lugares imperdíveis.

De início, fizemos a tradicional reconhecimento de área, através de uma volta pela avenida beira rio. Choque cultural!! Será que o avião não enganou e foi mesmo parar no Vietnan? Não é possível! Se pensávamos que entendíamos de China, vimos o tanto que erramos.

Era Ha Noi, não podia ser a China!

Os chapéus tão característicos do Vietnan, o clima, mas pior…. o trânsito.

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Acho que o pneu de trás de uma moto se ligava ao pneu da frente da que vinha atrás, de forma que era impossível vencer aquela barreira de scooters elétricas. Simplesmente impressionante o trânsito de Guilin e após algumas centenas de metros andados e muita aventuras atravessando a mais estreita rua que fosse, nos demos por vencidos.

Até a policia nos ajudou a atravessar avenidas simplesmente parando o trânsito, do tanto que esperávamos entre dois obstáculos na calçada para cruzar a rua, obstáculos estes estreitos o suficientes para impedir que uma scooter assassina viesse nos abater no passeio. Batemos em retirada para o Lijiang Waterfalls.

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À noite, fizemos uma segunda tentativa na feira atrás do hotel, com quarteirões fechados (ou quase) para o trânsito. Me arrependi por não ter tentado o Fish Spa, e passado alguns minutos com aquele cardume comendo a pele de meus pés. O preço era o mais em conta que até então vimos, 60 Yuans, 10 dólares. Mas acho que pegamos o distúrbio de Jerry e após tantas aventuras, estávamos também hiperativos.

Na outra manhã cedinho, o ônibus que passava de hotel a hotel recolhendo excursionistas, se deteve em frente ao Lijiang, e fomos em frente com a condução de Shao Liu, cujo nome inglês era KFC.

Shao Liu falava um bom inglês e tinha a tez mais escura do que o habitual dos chineses. Ele confirmou algo que ouvira antes na Coréia. Após pregar um decalque em cada um de nós, disse que o fazia porque da mesma forma que para nós chinês é tudo igual, para eles, ocidentais “é também tudo igual”.

Em pouco tempo estávamos já iniciando pela paisagem de geografia tão singular, que lembra a de Ha Long, no Vietnan!! Morros se levantavam da terra em repetição cada vez mais intensa, até que suas bases foram tomadas pelo plácido rio Lijiang.

O passeio no rio Lijiang é apocalíptico, fenomenal, impressionante, além da imaginação. Como é bonito andar pelo rio Lijiang nos botes de pseudo-bambus, na verdade canos de PVC, com a propulsão de pequenos motores. Em cada metro um novo deslumbre, uma profunda incredulidade de estar ali vendo o que víamos.

Quatro pessoas assentadas, com uma cobertura em cada bote contra o sol inclemente, e o condutor em pé atrás, domando seu pequeno motor.

O ônibus nos pegou rio acima e nos conduziu a Yangshou, onde comemos nas redes ocidentais de fastfood, pois pelo que parecia, éramos trigo e cana de açúcar dependentes.

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Yangshou vale a pena, é uma Guilin infinitamente menor. Os montes característicos da região estão por toda parte e alguns viajantes acabam se hospedando alguns dias na pequena localidade, que também tem um feira de artesanato, muitos bares etc. (os europeus que ficam dois anos viajando, não nós com apenas quase um mês de férias).

Fomos para a segunda excursão com Shao Liu pois após visitarmos o rio Lijiang, queríamos mais. Esse complemento saiu em torno de 15 dólares para cada. Vale cada centavo.

Incluía passeios em botes autênticos de bambu (não pvc) com propulsão pelos braços dos remadores que fazia o pequeno bote ir em frente com sua vara que tocava o fundo do rio.

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Assistimos uma demonstração de pesca com o Cormorão, que de autêntico para a sobrevivência daquela gente passou a ser um espetáculo apenas para turistas, mas vale para quem já leu a respeito.

Alimentamos um búfalo com espigas previamente deixadas pra o contato estrangeiro – força motor da agricultura… e ficamos totalmente encantados com tudo que nossos olhos enxergaram aquele dia. Único, apesar de turístico. Gostaria de repetir tudo outra vez.

Fomos deixados no outro lado da avenida do Lijiang Waterfalls e quase não conseguimos cruzar rua, se não fosse um minuto de arrefecimento daquela fila de carros e duas rodas … para em seguida sermos quase abatidos na calçada pelas motos silenciosas e elétricas que vinha de todas as direções.

Refeitos, fomos jantar, escolhemos um spaghetti, pobre de nós, escravos do trigo.

Escutar Hey Jude no restaurante, de frente para o rio Lijiang que cruza também Guilin, foi como a cereja do bolo. Emocionante, grandeza por toda parte!

No hotel, antes de dormirmos, recebemos o telefonema de Jerry confirmando o último passeio nos arrozais. Descartamos as plantações de chás porque achamos apertado em tempo, e não queríamos ir destruídos e suados para o aeroporto, pois faríamos o check out antes do último passeio.

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No último dia, bem cedo, aparece um senhor que não falava uma palavra de inglês mas que oferecia um telefone já com a ligação feita, onde conversamos com alguém de excelente sotaque britânico. Fomos para os rice paddies, 70 km de Guilin.

A viagem foi tenebrosa, a direção mais perigosa de nossas vidas. Se os arrozais foram fantásticos, o medo durante a rodovia, e pior, na escalada alucinada pela montanha que nunca acabava, em curvas de níveis cada vez mais altos, onde se ia vendo o abismo de muitas curvas da estrada abaixo, comprometeu nossa satisfação no último site de Guilin para nós.

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Até hoje a aventura rodoviária nos assombra. Nossa salvação foi que Jerry ligou quando estacionamos o carro, e ainda estávamos vivos bem na entrada do ponto de partida morro acima a pé, para os arrozais, lhe pedi que dissesse ao motorista que não mais fizesse aquilo.

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Pensei que ele ficaria indisposto com os estrangeiros mudos e apavorados, que nada, o homem fez de tudo para nos agradar na volta, e ficamos com compaixão de tamanha humildade que ele se postou.

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Ah se eu tivesse pelo menos vinte anos a menos. Subiria até o topo dos arrozais e fotografaria o mundo aos meus pés. Mas naquele calor insuportável, morro acima sem fim, conseguimos ir até certo ponto. Depois deixamos os jovens seguirem em frente.

Será que a dieta de trigo e cana de açúcar deixa as pessoas inaptas para escalar montanhas tão altas como aquelas? Pois os chineses, da dieta do arroz e dos chás sem doce, jovens, idosos, seguiram sem parar serra acima, enquanto recuperávamos o fôlego sentados na primeira sombra que achamos?

Em cada estação do ano você encontra os arrozais de uma maneira, de uma coloração. Nós os vimos amarelados, cercados por montanhas poderosas que os escondiam.

A gente típica daquele lugar desfilava serra acima e abaixo, vestidos em seus trajes coloridos.

Foi nos arrozais que achei para presente, o livro vermelho do Mao. Um souvenir que começou com 100 Yuan mas que só consegui abaixar para 60 Yuan. Realmente é uma arte saber comprar na China. Depois fiquei me sentindo mal por ter diminuído o ganha-pão daquele povo simples e sorridente, só para me gabar um bom de barganha.

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Dos arrozais, e com velocidade pela metade daquela que fomos, chegamos até a rodovia que levava direto para o aeroporto.

Lá estava Jerry nos esperando, para uma foto, e para nos levar até o setor de embarque do aeroporto de Guilin, de onde partimos tarde do dia para Shanghai.