A MIRAGEM VERDADEIRA
Para um viajante, sobrevoar países como a Nigéria, o Chade, o Sudão – e lá embaixo perceber o vulto legendário e milenar do rio Nilo, depois atravessar a 10 mil metros de altura o Mar Vermelho, cruzar a terra sagrada do Islamismo – a Arábia Saudita, descer o golfo Pérsico vendo as luzes de Doha, de Abu Dhabi, e aterrissar no pós moderno de Dubai – isso comove.
Longe da rota Europa, do caminho para a America do Norte, agora novos destinos são descobertos.
Para um viajante, isso conta. E muito!
O aeroporto de Dubai, que já mereceu uma série de um canal de televisão paga, fica ao nível (mas não mais) do que se esperava.
A chegada é grandiosa, suntuosa, e logo se é recebido pelo pessoal de fronteira, que sem muito trabalho, inspeciona o visto impresso, visto on line, da folha anexa dentro do passaporte.
Na verdade, chegar e sair de Dubai por via aérea, nos remete aos filmes da nova série de jornada nas estrelas, quando as naves descem naqueles planetas de edifícios impensáveis, de arquitetura nunca antes concebidas. Dubai é o pós moderno, é difícil aceitar que aquilo ali existe de verdade no planeta terra.
Voltemos ao aeroporto. Os funcionários vestidos em suas roupas árabes são ágeis e discretos, sem intimidades ou perguntas.
Pois é, o visto de quem compra a passagem na Emirates é fácil e seguro de ser obtido pela internet, no link que o próprio site da Emirates fornece. Em poucos dias ele está em pdf na caixa de entrada de seu email.
Para quem vai por outras companhias tem que se virar com despachantes e outras agruras que enfrenta quem pretende ir à um país que exige visto de entrada. Consulte a internet para maiores esclarecimentos. Espero que logo isso mude e a Etihad já esteja promovendo a mesma facilidade para seus clientes.
Em seguida, no aeroporto, as malas e bagagem de mão, casacos etc são inspecionados na maquina de rx, numa espécie de segurança para embarcar, só que neste caso, para ter acesso ao portão de saída do aeroporto.
Lá fora a primeira armadilha para quem chega por conta própria o espera: os dois tipos de taxis. O comum, com taxímetro funcionando apropriadamente, geralmente um sedã coreano ou japonês, e o outro tipo de taxi, de cor escura, com taxímetro da mesma forma honesto, porem que te cobra umas quatro vezes mais pela mesma corrida.
Como andamos nos dois tipos de carros enquanto em Dubai, o que muda mesmo é somente a pintura e o preço da corrida.
Portanto é melhor ter cuidado na saída do aeroporto, todos vão te levar para a fila do taxi mais caro que é a mesma, ou é paralela com a do taxi mais em conta. E bater o pé quando o assunto é preço faz parte e não causa trauma no mundo árabe.
A mão de direção em Dubai é a mesma do Brasil, existe um ordenação de trânsito não existente no mundo árabe, ou no oriente ( China, Vietnam p. ex), que faz a ilusão de estar no ocidente de primeiro mundo. Sinais de trânsito são respeitados, faixa de pedestres garantem relativa segurança. Contudo, para quem vem do Brasil, existe sempre a desconfiança do motorista que aproxima.
Os taxis brancos, digamos assim, são relativamente baratos, bem baratos, e permitem deslocamentos impossíveis a pé, já que além da parte antiga da cidade – região de Deira e cercanias, as ruas não foram feitas visando o pedestre em primeiro lugar.
Muitas não tem passeio, o sol é inviável, as distâncias são impraticáveis.
Dubai tem um metrô se desenvolvendo, que em poucos anos já atingiu distâncias consideráveis na enorme cidade, com suas duas linhas que se cruzam em duas estações.
O metrô é todo automático, sem condutor, parte de estações futurísticas, impecavelmente limpas, seguras, vigiadas.
O bilhete pode ser comprado de máquinas ou do funcionário que é gentil e fala inglês. ( Todo mundo ali parece falar inglês).
Para todo um dia, 30 Dirhams para o bilhete simples, o dobro para o bilhete gold, em um vagão exclusivo com poltronas, ar condicionado, e despovoado da multidão de indianos, paquistaneses, e todas as demais nacionalidades que vieram aos Emirados Árabes Unidos para construir o país, uma espécie árabe dos nossos Candangos.
Existe ainda um vagão exclusivo para mulheres e crianças pelo preço do vagão comum e a multa por violar as classes de vagões do metrô é de 100 Dirhams, cerca de 30 dólares – e os fiscais sãos constantes e implacáveis.
Além do metrô, existe um Tram ( bonde de superfície) que corre paralelo e adentrando outros bairros, cruzando com o metrô em varias estações, e se situa na região norte? da cidade, o qual você pode usá-lo com o mesmo bilhete diário comprado para o metrô.
Cuidado com o vagão de mulheres e cuide-se por marcar o bilhete, tanto na entrada quanto na saída, porque a multa também é de 100 Dirhams e eles vão te dizer que você violou as leis do transporte – sentença terrível para quem quer apenas viajar e conhecer.
Por este Tram, em uma de suas estações, e a custa de pequena caminhada, chega-se ao Monorail que o levará a uma das improbabilidades, mas que no caso de Dubai, se concretizou: a palmeira de terra artificial, gigantesca, com muito dos seus prédios ainda em construção, porem com muita área já terminada, em uma viagem cinematográfica, realmente pós-moderna, assim que se avista o hotel no final da linha, e às custas de muito esforço para se acreditar – é verdade mesmo, não é truque de computador. Aquilo existe!
Monorail
Quem olha para o mapa de Dubai percebe logo que esta palmeira não está sozinha, existe outra maior em projeto, como também um mundo artificial, um mapa-mundi sendo criado tomando do golfo pérsico sua superfície de água e mudando-a para espaço de dourada exclusividade.
Do avião também é possível perceber que esta tendência de roubar do mar sua área, se repete em pequenos projetos, alguns ainda sob a forma de placas de areias tentando tornar-se algo viável, outros ancorando um barco, ou seja lá o que for.
No metrô que antes predominava os imigrantes, agora nestas vias de turismo imperam os orientais, principalmente os chineses, esmagadora maioria, que em seus 10% de aptos ao turismo, formam um Brasil de 200 milhões de indivíduos soltos pelo planeta, invadindo cada canto do mundo onde um destino turístico exista.
Talvez não tanto em nossas terras este fenômeno chinês se repita, já que formamos apenas um beira marginal do turismo do mundo. Mas que em cada mil turistas, 900 são chineses, basta estar lá para comprovar.
Deira.
Quando penso em mundo árabe, em Dubai, Deira seria o destino. Não deixa de ser, tem o sabor, o cheiro de condimentos, uma arquitetura que recorda, os personagens em suas roupas.
Porem, Deira foi alem. A região modernizou-se, tem um metrô de primeiríssimo mundo, sinais de trânsito, faixa de pedestre, passarelas subterrâneas. E alem disso, mesclou-se com comerciantes chineses, indianos e assemelhados, angolanos e por ai vai, situação impensável em um Souq de um profundo mundo árabe.
Não seria diferente, Dubai chegou a um ponto de encruzilhada daquele mundo, de hub para todos os cantos. Dubai na verdade parece estar no centro dos caminhos, não o mundo ocidental, mas o planeta terra. De onde, com poucas mais horas se chega em qualquer lugar do planeta.
É inevitável que este planeta reflua sua gente para sua geografia, para dentro da riqueza do Emirado.
Em Deira pode-se comprar o que o Souq ( digamos, bazar gigante árabe) vende. Temperos, perfumes, ouro, prata, pedras preciosas, roupas, incensos, alimentos, vestimentas, tudo que uma mistura de shopping Center com bazar da esquina sabe ter.
Os personagens árabes estão lá com seus costumes, com suas rezas, seus chás, suas conversas em rodas que os tornam indiferentes aos demais passantes, um descuido de limpeza das ruas, uma insistência beirando ao molestamento aos que olham procurando mais um souvenir.
Mais alguns passos, um shopping Center gigantesco e luxuoso, todas as redes de comidas ocidentais de fast food, restaurantes, e mais uma estação de metrô que pode levá-lo a qualquer canto da cidade. Assim é Dubai.
Deira propicia uma pequena aventura aquática: cruzar o canal em velhos barcos, esporte feito pela multidão de orientais que iam ou desembarcavam. Do outro lado um pouco mais de arquitetura árabe, o mesmo ambiente que Deira, o conjunto fornecendo uma foto de um passado que se moderniza, ainda belo, ainda árabe.
Preferimos fazer o cruzamento do canal pelo metrô, que num zaz nos pôs do lado de lá, sem termos de disputar lugar com os poucos ocidentais e a multidão de ruidosos e felizes chineses.
Segurança.
A primeira coisa que perguntei à atendente do Hotel quando fiz o check-in foi sobre segurança.
Dubai é seguro? Perguntei-lhe.
A resposta foi rápida e concludente:
Uma mulher pode andar sozinha as 03 da manhã que não lhe acontecerá nada.
Como somos brasileiros, e como existe uma população de imigrantes em volume exagerado em Dubai, uma postura de precaução sempre foi mantida.
Entretanto, não vimos hora nenhuma o menor transtorno da paz pública.
Que triste para nós quando lembramos que um dia teríamos que voltar à nossa pátria!
Palm Jumeirah
Tanto em Jumeirah Lakes Towers quanto em Dubai Marina, duas estações da linha vermelha do metrô, existe uma conexão com o Tram de Dubai, que vai se estendendo em uma posição mais próxima a orla.
Com o mesmo bilhete diário do metrô, você poderá utilizar o Tram, mas cuidado, marque seu cartão tanto na entrada quanto na saída porque a fiscalização é digamos, aborrecida, para os turistas deslumbrados.
Até que na estação também nomeada Palm Jumeirah deste Tram, estará a porta de entrada do Monorail que se dirige para a ilha artificial Palm Jumeirah, quase finalizada em suas construções, mas que nos desperta a sensação estranha de um impossível sendo provável, de um proibido tornando-se permissivo.
Palm Jumeirah é o que se esperaria de uma viagem a Hollywood, mas que não foi encontrado. Lembra uma invasão em um dos grandes estúdios de cinema, porém o cenário já havia sido desmanchada. Ali, a materialização deste pensamento ousado é concreto. É de alguma forma uma essência de miragem real
Sua irmã pouco mais crescida fica a sua esquerda, Palm Jebel Ali, mas não houve tempo para conhecê-la. À direita, um mundo ainda a construir se insinua como projeto inacabado, avançando mar adentro.
O Monorail vai indo em direção ao condomínio artificial, com suas ruas em forma de ramos de um tronco central, prédios sólidos, casas de felizardos, construções comerciais, logo o transporte mostrando o hotel no final da linha, lá longe, enorme, em formas árabes, que dentre jardins e avenidas de muito movimento, faz divisa com o golfo pérsico invadido.
No Monorail tem que se pagar pela viagem de dois sentidos, mas não se justifica ir a Dubai sem que se visite este ousado, mais um deles, projeto em Dubai.
Burj Al Khalifa e o Shopping Center.
Um shopping Center que tenha uma galeria Lafayette dentro de seus domínios, e pior, como mero detalhe dentre tantas outras marcas, shopping que tenha um aquário em um canto de sua área, da altura de seu pé direito, onde os turistas vagam por dentro de suas divisões (com bilhete comprado), shopping assim dispensa outros comentários.
Provável que seja mesmo o maior shopping do mundo, com o maior numero de lojas, com suas alas estilizadas, conjunto impossível de explorar em um só dia devido a imensidão de idas e vindas pelos seus corredores.
Em uma de suas portas de saída, o infalível lago com suas águas dançantes, bordeado pelo seus restaurantes e palmilhados pelos turistas maravilhados.
Shopping que em outro setor dá acesso ao edifício mais alto do mundo, em visitas pré programadas e disputadas por multidão afoita, subida de preço mais acessível que as torres Petronas de Kuala Lumpur, por exemplo, porém ainda assim de valor considerável.
E não se iluda, se Dubai tem o edifício mais alto do mundo, os outros arranha-céus que os cercam também atingem fácil seus 50, 60, 70 andares.
Com prédios altos e shoppings deste tamanho, um sistema de transporte público eficiente, uma cidade segura e se por um lado bem árabe, por outro cosmopolita e tolerante, Dubai não pode ser mera passagem, pelo contrário, carece de uma estada mais prolongada.